Edição do dia 28/05/2010
28/05/2010 22h23 - Atualizado em 28/05/2010 23h36
Plantas medicinais ajudam a emagrecer e a curar a depressão
Perto da Hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), nasceu um refúgio biológico. Plantas receitadas para tratar doenças saem do local embaladas, prontas para virar chá.
MÔNICA TEIXEIRA
Foz do Iguaçu, PR
Há seis anos, a vida do policial Cícero Manuel de Souza perdeu a graça. O cara brincalhão e divertido caiu em depressão profunda. “Na realidade, nem eu entendo o que aconteceu. É uma doença sorrateira e veio com um efeito, uma bomba relógio”, conta.
Confira aqui a lista de plantas medicinais mostradas do programa
Policial militar, casado, pai de três filhas, ele não resistiu. “eu não queria conversar com ninguém. Vinham os amigos na minha casa, e eu não queria saber. Eu me fechava no quarto”, afirma.
Mergulhado na escuridão da doença, Cícero chegou ao limite. “Eu fui ao fundo do poço. Para você chegar lá no final, você entrar no seu quarto, você pegar uma arma, botar embaixo do queixo e falar: ‘acho que eu resolvo tudo, agora’”, revela.
Cícero procurou tratamento psiquiátrico. Durante três anos, tomou um coquetel de remédios que aliviavam o sofrimento, mas também produziam efeitos colaterais devastadores. Ele conta que ingeria o remédio e que dois minutos depois ele simplesmente apagava.
Quando o corpo já não suportava mais, ele buscou ajuda em um posto de saúde em Foz do Iguaçu. A médica Christiane Lopes Pereira receitou um remédio que ele nunca tinha experimentado, à base de plantas medicinais.
“Eu perguntava: ‘será que vai funcionar? Se fosse tão bom todo mundo receitaria, mas será que vai funcionar?’ E a grande verdade: eu estava errado”, lembra o policial.
“O Cícero hoje se mantém bem só com plantas medicinais. É um resultado surpreendente. O interessante da planta é que a gente não visa o tratamento da doença, a gente trata o doente”, afirma a doutora Christiane.
“Eu voltei a ter aquela vontade de viver, ou seja, voltei de novo a ser o negão de sempre”, brinca Cícero.
“Eu tenho mais ânimo, tenho mais disposição, tenho uma melhora geral mesmo”, aposta a atendente de farmácia Marcia da Silva Santos. “Nossa, estou 100% hoje”, declara a dona de casa Ivone Furlan Dotto. “Hoje, eu posso tomar uma cervejinha, um golinho de cachacinha. Eu me atrevo às vezes”, diz o aposentado Arlindo Munslinger.
As plantas mecidicinais transformaram a vida dessas pessoas. Todas vivem no Paraná, na região que faz fronteira com o Paraguai e a Argentina, que tem como cenário as Cataratas do Iguaçu e o imenso lago de Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo em produção de energia.
Em uma área bem perto do lago da hidroelétrica nasceu um refúgio biológico. Tudo começou com apenas 35 mudas de plantas medicinais. Elas foram resgatadas de terras que seriam inundadas para a construção da usina. As plantas cresceram e se multiplicaram. Junto com elas, brotou uma ideia que hoje se espalha por toda região.
Nas terras que pertencem a Itaipu, funciona uma fábrica de mudas. Algumas espécies cultivadas, de tão exploradas, já nem existem mais na região. É o caso da espinheira santa. “Ela é excelente pra gastrite”, afirma o técnico agrícola Altevir Zardinello.
O horto foi ideia de um técnico agrícola, apaixonado pelas plantas medicinais. Há sete anos, o técnico agrícola Altevir Zardinello coordena o projeto de Itaipu que pretende difundir e orientar o uso das ervas na região. Ao todo, 82% da população já usavam plantas medicinais, mas muitas vezes da maneira errada.
“As pessoas tomam muito chimarrão. E erva mate é uma planta que tem cafeína, é excitante, e as pessoas misturavam com plantas calmantes. Então, não é o indicado, não é o correto”, aponta o técnico agrícola.
As plantas receitadas para tratar as doenças mais comuns da população já saem do local embaladas, prontas para virar chá. O processo segue normas rigorosas de qualidade. “Nós observamos a coloração das folhas, o aparecimento de fungos, bolores”, explica o farmacêutico Reinaldo Shimabuku.
Mas a maior parte das mudas tem outro destino: vai para os agricultores que vivem em torno da usina. Dezessete já estão cultivando ervas medicinais nas suas terras.
A agricultora Guiomar Maria de Santana Neves foi a primeira a apostar na ideia. Na casa da família, toda manhã, o dia começa com uma xícara de chá de cidrozinho para todo mundo. “Ele é digestivo, calmante e é bom para dor de cabeça. Foi colhido ali da minha plantação, vem do próprio quintal”, conta.
Na verdade é mais do que um quintal. O que era pasto para as vacas de leite virou uma grande horta medicinal, totalmente orgânica. “A maior dificuldade, no início, foi que eu não tinha irrigação, e foi na época da seca em que era o sol muito quente. Eu tive que irrigar com o baldinho, irrigava de manhã e de tarde, até pegar”, revela a agricultora.
Guiomar resolveu investir na produção. A secadora custou R$ 22 mil reais, que vão ser pagos a prestação, com o dinheiro das plantinhas, como ela diz. Com os técnicos, ela aprende os segredos para o investimento dar certo.
Guiomar também colhe conhecimento da plantação. O que ela aprendeu está sendo útil para a família e para os vizinhos também. “Tem tanta gente que agradece o que eu passo para eles. Depois, eles vêm me agradecer. Aí eu fico contente é melhor que um pagamento em dinheiro”, ressalta.
O resultado de todo o trabalho da família são 200 kg de planta seca por mês. E a produção já tem destino certo: abastece quatro postos de saúde da região. E assim como a família da Guiomar, já tem muitas pessoas sentindo os efeitos das plantas medicinais.
A fitoterapia já é receitada em dez postos de saúde e dois hospitais da região. Em um posto em Foz do Iguaçu, o medico Alexandre Carloni costuma indicar as plantas como complemento. Uma vez por mês, o aposentado Arlindo Munslinger busca as ervas para preparar o chá que melhorou os problemas do estômago.
“Eu tomava outros remédios que melhorava um pouquinho, mas já voltava tudo de novo. Agora, depois que eu tomei o chá, eu não sinto mais nada. Agora, estou bom”, destaca Arlindo.
“Ele respondeu bem com a melissa, com a carqueja e com a espinheira santa. Mas, como ele começou a comer melhor, a gente acrescentou a alcachofra, para evitar que ele tenha outro tipo de problema que é o colesterol”, explica o Dr. Alexandre.
A atendente de farmácia Márcia da Silva Santos trabalha no posto. Ela chegou a pesar 90 kg e, quando decidiu emagrecer, foi direto falar com o doutor Alexandre. Ele receitou chá com folhas de embaúba, carqueja, alcachofra e melissa - uma fórmula para combater a retenção de líquidos e controlar a ansiedade.
“Eu perdi dez quilos só com chás e a reeducação e depois mais três quilos com o auxílio da atividade física, em seis meses”, revela a atendente.
A dona de casa Ivone Furlan Dotto também emagreceu oito quilos, mas o tratamento que ela faz há um ano e meio é para reduzir os miomas no útero. A fórmula manipulada livrou Ivone de uma cirurgia. “Não tenho mais indicação de cirurgia. Estou bem melhor”, afirma a dona de casa.
Para cada pessoa, um remédio diferente. Não existe uma receita única. Para a depressão do policial Cícero, a doutora Cristiane receitou uma fórmula feita de extrato de passiflora, valeriana e de gingseng brasileiro (a pfafia paniculata), além dos chazinhos.
E na casa dele, a recomendação médica é seguida com prazer. “Sempre que eu percebo que ele está ficando meio triste, eu faço um chazinho para ele melhorar”, revela a professora Roseli Maria de Souza, esposa do Cícero.
“O mais importante é você viver a vida, a vida é bela e você acreditar”, afirma o policial.
O técnico agrícola Altevir acreditou. As plantas que brotam cercadas de cuidados agora chegam até quem mais precisa delas. É um ciclo que se fecha, um ciclo de saúde e que nasceu de um sonho.
“A sensação é de missão cumprida. Trabalhei sete anos neste projeto. Então, é uma sensação muito gratificante, saber que uma planta está a sua disposição, que ela pode te curar de vários males, você não precisa usar dinheiro, você não precisa comprar, não precisa ter recurso para isso. É só ter carinho, ter amor com ela que ela vai te dar o que você precisa que é a cura”, destaca Altevir.
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