Brasiliense que nasceu sem língua recupera fala com tratamento inédito
Depois de 18 anos de tratamento, Auristela ganhou um rosto mais bonito e uma vida normal. A estudante de enfermagem se considera uma vitoriosa

Auristela: tratamento inédito garantiu à jovem um rosto mais harmônico e uma vida normal
Auristela Viana da Silva tem apenas 23 anos, mas uma
história repleta de pequenas vitórias, grandes feitos e superações. A
estudante de enfermagem é uma sobrevivente. Ela nasceu sem língua por
conta de uma doença rara, chamada aglossia congênita isolada. A
expectativa de vida dos portadores do problema é de três dias de vida.
Há apenas três casos registrados da enfermidade no mundo.
Os outros dois foram registrados nos Estados Unidos, mas receberam
tratamentos diferentes dos de Auristela. Frederico Salles,
cirurgião-dentista especialista em intervenções maxilares e faciais,
recebeu Auristela no consultório com um diagnóstico errado. Ela tinha
cinco anos.
Para os médicos que a atenderam ainda bebê, ela não
mamava por conta de uma síndrome, chamada de Pierre Robin, que provoca
deformação facial e impede a criança de deglutir.
“Ela sobreviveu por conta do instinto da mãe, que adaptou
um bico de mamadeira para fazer o leite chegar à garganta”, conta
Salles.
Tratamento inédito
Quando a dificuldade de falar e engolir ganhou
diagnóstico e nome corretos, Salles juntou uma equipe multidisciplinar
para estudar e monitorar o caso. O grupo, que inclui dentistas,
psicóloga, nutricionista e fonoaudióloga, juntou também instituições de
Brasília para criar alternativas que garantissem qualidade de vida à
criança.
Depois de duas cirurgias para alterar a forma da
mandíbula, cujo formato foi apelidado por Salles de “bico de pássaro”, a
equipe conseguiu uma expansão maxilar de 20 milímetros. Todo o
tratamento foi custeado com doações e pensado exclusivamente para
Auristela.
“Não existia tratamento proposto como esse”, conta Jorge Faber, professor de Ortodontia da UnB e ex-aluno de Frederico Salles.
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Faber é responsável pelo acompanhamento ortodôntico de
Auristela, que terá de usar um aparelho de contenção o resto da vida. A
ideia é não permitir que os dentes dela voltem a tentar se unir no
centro da boca, por causa da ausência da língua.
Para Salles, o trabalho feito pela psicóloga Elizabeth
Queiroz e pela fonoaudióloga Maria Lúcia Torres, do Núcleo de Estudos em
Educação e Promoção da Saúde da UnB foi fundamental para trabalhar a
autoestima e ajudar Auristela a se comunicar com o mundo.
A fonoaudióloga ensinou Auristela a usar outros músculos
da face para ajudá-la a pronunciar os fonemas (especialmente os que
exigem o uso da língua) e a mastigar e engolir da melhor forma. O
resultado é impressionante.
“Todo esse sucesso foi possível porque a equipe interagiu
muito bem esses anos todos. Ninguém trabalhou por dinheiro ou resultado
científico”, reflete Salles.
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