Tribuna Feirense
Glauco Wanderley
As empresas de ônibus Princesinha e 18 de
setembro, que atuam em Feira de Santana, até hoje não pagaram pela concessão
outorgada em licitação de 2004 e há anos devem milhões ao município do pagamento
de Imposto Sobre Serviços (ISS). Mas alegam que sofrem prejuízo, porque a
passagem está abaixo do valor que deveria. Em função disso, entraram com um
processo na justiça pedindo compensações.
Em maio de 2012, o então prefeito Tarcízio
Pimenta, o procurador geral do município, Carlos Lucena, dois representantes da
empresa e o advogado delas chegaram a assinar um acordo no valor de R$ 37
milhões 379 mil 771 reais e 93 centavos, que acabou não sendo homologado
oficialmente na justiça. O processo continua existindo.
A história tornou-se de conhecimento público em
agosto do ano passado, mas alguns aspectos acabaram passando em branco diante da
opinião pública. O texto do acordo que a prefeitura quase firmou revela detalhes
espantosos. Fica-se sabendo que as empresas nunca quitaram as outorgas, ou seja,
o valor que deveriam pagar para ter o direito de explorar o serviço de
transporte coletivo na cidade. Quase R$ 2 milhões deixaram de ser pagos. Os
contratos foram firmados em 24 de fevereiro de 2005, primeiro ano do segundo
governo de José Ronaldo. Igualmente deixaram de ser pagos nos últimos anos os
valores devidos do ISS. As duas empresas juntas deviam quase R$ 7 milhões na
época da assinatura do acordo, há quase um ano.
O texto contém uma justificativa para o calote na
outorga e a sonegação fiscal. Foi para que houvesse recursos para “manter a
excelência na prestação do serviço, mesmo com o desequilíbrio econômico
financeiro”.
Ao assinar o acordo, o município admitia que “em
inúmeras ocasiões” a tarifa adotada teve “valores aquém daqueles aferidos pela
própria administração pública”. O texto ataca as gratuidades, acusando-as de
agravar ainda mais a situação das empresas.
O raciocínio que norteou o acordo é de que como
elas não tiveram retorno do investimento feito, precisariam ampliar o tempo de
concessão, como forma de compensar o prejuízo, sem terem que pagar por isso.
Demonstrou-se uma preocupação de agir rápido para
consumar o fato. A emissão de Certidão Negativa de Débito das empresas deveria
ser feita pela prefeitura no prazo máximo de 24 horas após a assinatura. Havia
ainda uma cláusula que tornava o acordo irrevogável. Mas resguardava o interesse
das empresas, ao mencionar que em caso de novo “desequilíbrio financeiro”
provocado por reajustes abaixo do que fosse considerado como mínimo pelas
operadoras do sistema, um novo processo poderia ser aberto.
Apesar de toda a perda de receita implícita no
conteúdo das 8 páginas, o texto contém, em meio às suas considerações iniciais,
a frase. “O acordo deve ser firmado, em última análise, nos interesses de toda a
população feirense”. Entre as justificativas tentou-se incutir o conceito de que
o acerto era benéfico ao município, pois “a provável probabilidade [sic] da
procedência da ação implicaria sérios prejuízos ao erário público
municipal”.
O ganho de cada empresa
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18 de setembro (37,08%)
|
Princesinha (62,92%)
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ORIGEM
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Valor
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ORIGEM
|
Valor
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Perdão da
concessão
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R$ 737.251,31
|
Perdão da
concessão
|
R$ 1.178.666,68
|
Perdão do ISS
|
R$ 2.519.725,46
|
Perdão do ISS
|
R$ 4.290.343,35
|
Perdão de multas e juros
|
R$ 496.554,83
|
Perdão de multas e juros
|
R$ 845.485,25
|
Investimentos a serem feitos em mais 12 anos de
concessão
|
R$ 10.105.345,67
|
Investimentos a serem feitos em mais 12 anos de
concessão
|
R$ 17.206.399,39
|
TOTAL
|
R$ 13.858.877,27
|
R$
23.520.894,66
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